terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Não-verdades entre o diálogo e a História

A História tem muitos componentes que a definem e tratam de sua especificidade, ou, melhor, de suas multiplas especificidades. A História enquanto ciência é quase um paradoxo uma vez que seu elemento fundamental é a fluidez..., do texto, do observador, do objeto, do conhecimento...para não falar do espaço, do tempo e das flores.

Podemos compreender como um esboço de método de investigação histórica a identificação de evidências que geram um problema ao qual se atribui um recorte no espaço e no tempo e que possui fontes que materializam um amálgama de unidade em torno da questão levantada. Porém, conforme explica o historiador Thompson, os fenômenos estudados estão em constante movimento e, segundo o autor, evidenciam manifestações contraditórias cujas:

"evidências particulares só podem encontrar definição dentro de contextos particulares, e, ainda, cujos termos gerais de análise (isto é, as perguntas adequadas à interrogação da evidência) raramente são constantes e, com mais freqüência, estão em transição juntamente com os movimentos do evento histórico". (THOMPSON, A Miséria da Teoria ou um Planetário de Erros: uma crítica ao pensamento de Althusser, 1981).

Por estas veredas podemos compreender a relação entre o conhecimento histórico e o seu objeto como algo que deva ser revelado a partir de um flutuante diálogo.

O Historiador da cultura, Roger Chartier, indica a necessidade de se compreender a produção do social a partir de suas manifestações e práticas que engendram relações complexas e variáveis, tendo como um influxo especialmente fértil para o históriador as tensões sociais postas por encontros de, por um lado, uma força criativa e expansiva (algo como o impulso dionisíaco nietzscheziano) e, por outro, as normas e convenções que fixam os limites da sociabilidade. Como diz Chartier:

(...) o objeto fundamental de uma história que visa a reconhecer a maneira como os atores sociais dão sentido a suas práticas e a seus discursos parece residir na tensão entre as capacidades inventivas dos indivíduos ou das comunidades e, de outro lado, as restrições, as normas, as convenções que limitam – mais ou menos fortemente de acordo com sua posição nas relações de dominação – o que lhes é possível pensar, enunciar e fazer. (CHARTIER, À Beira da Falésia: a história entre certezas e inquietudes, 2002,)

Retomo aqui o início deste texto, onde disse que a História, enquanto ciência, traduz um paradoxo. Este paradoxo refere-se exatamente aos limites de uma ciência que visa fixar sua linguagem num universo totalizante de relações lógico-matemáticas, deixando o sentido das emoções e as emoções dos sentidos encasulados em cápsulas de uma profilaxia que procura difundir o lento anestesiamento dos sentidos, no tempo e no espaço.

Talvez o fundamental de uma teoria da História resida na idéia de pensá-la como algo que produz não-verdades...

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