sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Véu em construção



E o dia chegou. Parecia até que desceu e amanheceu branco e se ela fechasse os olhos e respirasse fundo poderia ouvir uma música ampla e suave. Certamente um piano. O dia amanheceu branco alvo como o seu vestido.
O dia seguinte amanheceria de outra cor, não importa qual ou, melhor ainda, não amanheceria. Permaneceria ininterruptamente nas brechas da bruma aurora, com muitas cores indefinidas, em êxtase.
O dia amanheceu branco e todos os corpos abraços dali em diante seriam diferentes: êxtase, nostalgia e uma epifania moviam suas pernas para os afazeres indispensáveis daquele dia.
O dia seguinte seria indecifrável em cada um de seus momentos; sem conceitos, sem normas; inesperadamente abrupto e suave. Ela poderia escorregar por uma montanha de gelatina ou voar nas asas de um pássaro colorido.
O dia amanheceu branco e as pessoas tinham muitos olhos brancos e todos olhavam para ela. Isso não era bom nem mal mas parecia que o buraco do mundo martelava nas suas costelas feito Adão. Os bichos e as árvores, o vento e os seres vivos, todos eles, pareciam inexplicavelmente idênticos, brancos entrelaçados e abraçados. Onde acabava o pé de um começava a raiz do outro e se estendia pelas escamas além mar.
O dia branco amanheceu e a terra foi jogada por cima daquela caixa casa de madeira e enterrada. O seu último pensamento foi o de não ter se casado e deixado apenas o seu véu esvoaçando feito um prédio em construção, cheio de janelas desabitadas e corredores inexplorados.